Nos últimos anos, na medida em que os impactos das mudanças climáticas se tornam mais evidentes, o plantio de árvores tem sido frequentemente apontado como uma “solução climática natural” para capturar e estocar as emissões de dióxido de carbono de um planeta cada vez mais quente, enquanto também conserva a biodiversidade e melhora a qualidade de vida das pessoas.
O professor de silvicultura tropical Pedro Brancalion, que estuda a restauração de florestas tropicais por quase duas décadas, é um entusiasta da conservação e restauração de florestas para beneficiar a natureza e o bem-estar humano. Mas destaca que a verdadeira restauração florestal é um desafio que requer planejamento cuidadoso e tanto manutenção como investimentos de longo prazo.
Brancalion e sua colaboradora acadêmica, professora Karen Holl da Universidade da Califórnia nos EUA, estão preocupados com o fato de que o fervor generalizado pelo plantio de árvores pode estar deixando as melhores práticas de restauração de lado. Os esforços de plantio de árvores cresceram em proporções vertiginosas, com campanhas organizadas em larga escala, créditos de compensação de carbono, compromissos de responsabilidade corporativa e doadores individuais, todos contribuindo para um empreendimento global amplamente não regulamentado.
“Em quase nenhuma outra atividade humana se investe tantos recursos sem um mínimo de controle sobre a eficiência dos investimentos para se atingir os resultados esperados”, destaca Brancalion. “Mais do que uma moda passageira, os plantios de árvores precisam ser eficientes e duradouros, que compensem os investimentos”.
É por este motive que Holl e Brancalion publicaram recentemente o seguinte conjunto de perguntas baseadas em pesquisa que todos os potenciais financiadores devem fazer antes de decidir apoiar uma campanha de reflorestamento:
1. O que você espera alcançar com o plantio de árvores?
2. As estratégias propostas de cultivo de árvores correspondem a esses objetivos?
3. Como os fatores iniciais de desmatamento e degradação florestal foram avaliados e resolvidos?
4. Como as partes interessadas locais estão envolvidas no projeto?
5. Que benefícios eles receberão?
6. Como as potenciais consequências negativas do projeto serão minimizadas?
7. Como o projeto será mantido e apoiado após os primeiros anos?
8. Como os resultados do projeto serão monitorados e orientarão o manejo adaptativo?
9. Quais resultados anteriores esta organização teve no cultivo de árvores?
10. Como o financiamento será alocado em todas as escalas organizacionais?
Algumas das perguntas foram elaboradas para garantir que os financiadores avaliem adequadamente os riscos e benefícios dos projetos. Plantar árvores nos lugares errados pode reduzir o suprimento de água e destruir outros tipos de ecossistemas biodiversos, como campos nativos e savanas. E iniciar projetos sem o devido envolvimento e adesão das comunidades locais pode levar a conflitos sociais, perda de renda e deslocamento de pessoas, o que pode realmente aumentar o desmatamento.
Mesmo quando os projetos dão certo, geralmente há demandas conflitantes entre objetivos como sequestro de carbono, biodiversidade e benefícios para as partes interessadas locais, e é por isso que é importante ter uma visão clara desde o início. Os financiadores também devem ser realistas sobre o que o plantio de árvores pode realizar.
“Adicionar árvores em um local ao mesmo tempo que se perde árvores em outro, seja pelo desmatamento como por incêndios, não resolve nossos problemas ambientais. A conservação e o uso sustentável dos recursos naturais têm que ser pré-requisitos da restauração,” destaca Brancalion.
Holl e Brancalion também querem se certificar de que os grupos envolvidos com o plantio de árvores estão planejando a longo prazo. Pesquisas mostram que os esforços de plantio de árvores mal planejados geralmente não produzem os benefícios desejados porque as árvores não sobrevivem o suficiente. Assim, em vez de medir o impacto pelo número de árvores plantadas, os projetos devem estabelecer metas para quantas árvores estarão vivas em cinco, 10 ou 20 anos e, em seguida, coletar dados sobre os resultados. Esse tipo de monitoramento é essencial para identificar e corrigir problemas à medida que os esforços de plantio de árvores continuam a crescer em escala.
O número de organizações que lideram esses projetos também cresceu rapidamente e nem todas têm o mesmo nível de experiência ou qualificação. Algumas das perguntas recomendadas podem ajudar os financiadores a ter uma noção melhor do histórico das organizações que estão pensando em apoiar. Muitas vezes, uma grande organização intermediária global garante financiamento para organizações implementadoras menores, caso em que também é importante entender como o financiamento é distribuído, para garantir que as partes interessadas locais sejam suficientemente recompensadas.
Holl e Brancalion fizeram essas perguntas para si mesmos enquanto atuavam em conselhos consultivos para grupos de investimento e organizações ambientais. Eles e seus alunos também estão começando a avaliar sistematicamente até que ponto diferentes organizações de cultivo de árvores podem responder a estas perguntas. Se outros começarem a fazer essas perguntas também, eles esperam que o financiamento para projetos de restauração florestal possa ser usado de forma mais produtiva.
“Estas são questões que todas organizações dedicadas à restauração florestal deveriam responder.”, conclui Brancalion.